Usina em construção no Pará será segunda do país em geração de energia.
Além de bolha imobiliária, obra trouxe progresso e alta na criminalidade.
Quem anda pelas ruas de Altamira, cidade-sede da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, não tem dúvidas de que a obra da usina já trouxe desenvolvimento para a região. Em pouco mais de um ano, proliferaram novas construções e estabelecimentos comerciais, além de reformas para ampliação. Mas, junto com o desenvolvimento, veio um problema comum aos locais nos quais a demanda cresce rápido demais em tão pouco tempo: a especulação imobiliária.
De acordo com entidades de empresários do ramo imobiliário em Altamira, os preços dos aluguéis triplicaram na cidade por conta dos migrantes que chegaram para trabalhar na obra.
A obra de Belo Monte é a maior em andamento no Brasil. A usina será a segunda do país em capacidade de geração de energia, atrás apenas da binacional Itaipu. O governo diz que Belo Monte é essencial para suprir a demanda energética do país em razão do crescimento econômico.Mas entidades e movimentos sociais afirmam que os impactos socioambientais são prejudiciais para o Brasil.
O desmatamento em razão da obra, a opinião da comunidade indígena que será atingida, a criação de postos de trabalho da região da usina e a expectativa dos moradores que serão desalojados em razão da obra.
Dono de uma imobiliária em Altamira, Waldir Inácio Rizzo conta que o aumento médio nos preços dos imóveis foi de 200%, mas que chegou a 300% em alguns casos.
"Estão faltando imóveis que custavam na faixa dos R$ 500, R$ 600 e hoje estão custando R$ 1,5 mil a R$ 2 mil. Imóveis que custavam R$ 3 mil estão custando hoje R$ 8 mil. O maior aumento ocorreu nos imóveis padrão A e B. Mas, de modo geral, Altamira não tem imóveis suficientes. Não estava preparada [para a chegada de migrantes]", conta Rizzo.
Lúcia Ferreira, também dona de imobiliária, confirma a situação e diz que, muitas vezes, sofre pressão do proprietário para aumentar ainda mais o valor da locação.
"O proprietário quer cobrar mais caro mesmo que o imóvel não valha. Quando vem o progresso, todo mundo quer aproveitar o filão."
Para a empresária, porém, a situação tende a se normalizar. "O preço deve ficar alto por mais um tempo, mas vai desafogar e cair de novo."
Na avaliação de Otacílio Lino Junior, delegado do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci) na região, Belo Monte é "uma obra de vultuosa estatura" que trouxe um "fluxo migratório repentino somado à baixa oferta de acomodações". "Nasce um ciclo que reporta, inevitavelmente, para a aplicação direta da já conhecida lei da oferta e da demanda”."
Até o fim de julho, o Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), empresa que executa a obra da usina, contratou 552 funcionários. Como os acampamentos que vão abrigar os trabalhadores ainda não estão prontos, foram alugados imóveis para funcionários e executivos.
Além disso, outras empresas prestadoras de serviço também chegaram. Segundo estimativas do Fórum Regional de Desenvolvimento Econômico e Socioambiental da Transamazônica e Xingu (Fort Xingu), 5 mil pessoas aportaram em Altamira entre janeiro e maio de 2011.
Esse número representa 5% do total de habitantes da cidade conforme os dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Eduardo Yamada é um dos contratados pelo CCBM e sentiu na pele o problema da alta nos preços dos aluguéis. Ele chegou de São Paulo para trabalhar na obra.
"Eu vim visitar a região em 2009, já pensando na obra de Belo Monte, e encontrei casas boas para alugar por R$ 600. Quando voltei, este ano, as mesmas casas custam R$ 3 mil", conta o técnico da área de construção civil.
Hoje, Yamada mora em uma república alugada pela empresa para funcionários. No entanto, quer trazer a esposa para morar em Altamira e, por isso, precisa encontrar uma casa.
"Aqui em Altamira tem algumas coisas que valem a pena. A qualidade de vida é melhor que lá. O problema é que não tem lugar para morar. É muito caro."
Construção civil
Além da especulação imobiliária, o aumento no ritmo da construção civil também é facilmente percebido.
Além da especulação imobiliária, o aumento no ritmo da construção civil também é facilmente percebido.
Pelo centro da cidade, é possível encontrar ampliações em hotéis, restaurantes, além de construção de estabelecimentos comerciais diversos, como lavanderias, concessionárias e galerias de lojas.
De acordo com Vilmar Soares, do Fort Xingu, liderança entre os empresários, dados da Junta Comercial indicam que 400 empresas foram abertas em Altamira neste ano. Até o fim de 2010, eram 1.680 na cidade. Além disso, estão atualmente em construção ou reforma 620 estabelecimentos comerciais e industriais, segundo licenças liberadas entre janeiro e maio deste ano pela prefeitura.
O empreiteiro Jorge Silva diz que tem trabalho agendado, mas falta ajudante. "Tenho duas obras para pegar e ninguém pra fazer. Tá faltando funcionário. O pessoal tá querendo trabalhar na obra da usina porque nesse ramo não tem direito a seguro de vida, essas coisas. Alguns tipos de material de construção também tenho que encomendar", conta.
Para Silva, porém, a usina tem ajudado a região. "O desenvolvimento traz a parte boa e a ruim. Há uns três anos, o pessoal passava até quatro meses sem trabalho. Agora, não tem mais isso."
Violência
Na esteira do desenvolvimento, Altamira também sofre com um problema típico do progresso - o aumento da violência urbana.
Na esteira do desenvolvimento, Altamira também sofre com um problema típico do progresso - o aumento da violência urbana.
De acordo com o delegado Cristiano Marcelo do Nascimento, superintendente regional da Polícia Civil na região do Xingu, o número de procedimentos policiais, como furtos, crimes e outros, cresceu quase 30% no primeiro semestre deste ano.
"Existe um aumento da violência na região em razão do aumento populacional. E a equipe continua do mesmo tamanho. Eu sou superintendente, coloco o colete e saio para rua porque faltam homens."
Nascimento diz que prendeu três homens vindos de Santarém, também no Pará, que disseram que foram praticar crimes de furto em Altamira porque ficaram sabendo "que o negócio estava bom".
O delegado afirma que, apesar da alta da criminalidade, a segurança pública na cidade "não está abandonada". "O governo do estado e a Norte Energia vão investir R$ 172 milhões só para reestruturação. Hoje, a equipe tem 25 servidores e devemos ter 51, vamos dobrar a equipe", diz o delegado.
O delegado afirma que, apesar da alta da criminalidade, a segurança pública na cidade "não está abandonada". "O governo do estado e a Norte Energia vão investir R$ 172 milhões só para reestruturação. Hoje, a equipe tem 25 servidores e devemos ter 51, vamos dobrar a equipe", diz o delegado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário