A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quarta (13), durante a inauguração do Pavilhão Brasil na Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que o Brasil é exemplo de que é possível crescer com sustentabilidade e pediu que "todos os países do mundo" assumam compromissos de proteção ao meio ambiente.
"A Rio+20 faz parte de um processo que começa com a Rio 92. Naquela época se colocou o meio ambiente na agenda internacional. Teremos que dar outra partida, outro início, um recomeço. Temos que provar que esse mundo que julgamos possível e real é também um mundo em que cabe um alerta, sobre a necessidade de um compromisso de todos os países do mundo”, afirmou.
Dilma defendeu ainda um modelo econômico que alie "preservação", "construção" e "crescimento". Segundo a presidente, as crises financeiras internacionais não podem prejudicar a busca pelo desenvolvimento sustentável. “Temos um desenvolvimento e modelo de desenvolvimento e não achamos correto mudá-los ao sabor das crises”, disse.
“O meio ambiente não é um adereço, faz parte da visão de crescer e incluir”, destacou, fazendo um alerta voltado aos países desenvolvidos. "Sobretudo durante crises, é importante que tenhamos consciência de que não tem desenvolvimento possível com base em ajustes que prejudicam pessoas, ajustes que prejudicam o meio ambiente e a biodiversidade."
Segundo Dilma, o país pode dar exemplo a outros emergentes. "Nós confluímos e convergimos para afirmar que os povos dos países emergentes, da África, da Ásia e da América Latina, que não partilharam dos frutos do desenvolvimento, possam partilhar através de um programa de inclusão social. Isso é possível fazer", afirmou. E destacou que o Brasil assumiu de forma voluntária compromissos de proteção ambiental. “Aqui [no Pavilhão Brasil] apresentamos exemplos concretos de como o Brasil cumpre seus compromissos, aliás assumidos de forma voluntária. Consideramos que a sustentabilidade é um dos eixos centrais da nossa concepção de desenvolvimento.”
Ela ressaltou que o Brasil tem conseguido reduzir a desigualdade social ao mesmo tempo em que diminui o desmatamento. “Desde 2004 nosso desmatamento reduziu 77%. [...] Temos 45% da nossa energia decorrente de fontes renováveis. Consideramos que nossa agricultura tem imensa capacidade de ser sustentável”, afirmou.
Dilma disse ainda que é “uma honra” para o Brasil sediar a Rio+20 e afirmou esperar que, durante a conferência, sejam firmados “objetivos importantes” para o futuro do planeta. “Nessa cidade que o poeta chamou de cidade maravilhosa, nós assistiremos ao longo dos próximos dias a discussão sobre o futuro que queremos para nós. O futuro que queremos para nossos filhos e nossos netos, e o presente que temos a responsabilidade de transformar.”
Acompanhada de ministros, Dilma, antes do discurso, assistiu a uma apresentação de danças típicas brasileiras da companhia Aruanda. O Pavilhão Brasil traz uma mostra sobre a evolução do desenvolvimento sustentável brasileiro e funciona nos dias 13 e 14 de junho, no Parque dos Atletas.
O espaço reúne estandes e exposições multimídia sobre programas e projetos dos ministérios e órgãos que compõem o governo brasileiro. Dilma participou da inauguração com os ministros da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, de Relações Exteriores, Antonio Patriota, Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, e do Turismo, Gastão Vieira.
Início da cúpula
A Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável começou pela manhã com uma sessão solene de abertura no Riocentro. Antes mesmo do início "oficial", no entanto, o bloco da União Europeia já fazia reuniões internas de negociação.
Durante a plenária, o secretário-geral da ONU para a Rio+20, o chinês Sha Zukang, disse que as negociações estão na "fase do vai ou racha", onde os diplomatas "não podem cometer erros."
“Precisamos acelerar drasticamente o ritmo, temos apenas três dias de negociações, são dias onde tudo ou vai ou racha, em que precisamos nos concentrar nas discussões-chave. Uma grande responsabilidade está sob nossos ombros, simplesmente não podemos errar”.
O encontro, que ocorre 20 anos depois da Rio 92, deve reunir mais de 130 chefes de Estado em sua fase final, para debater propostas sobre como aliar o desenvolvimento econômico à proteção ao meio ambiente e à inclusão social.
As negociações nesta primeira fase ocorrem dentro de "blocos". O Brasil faz parte do "Bloco dos 77 + China", que reúne os países considerados "em desenvolvimento".Desta quarta (13) até a sexta (15) ocorrem as últimas negociações sobre o documento que será levado aos chefes de governo. Trata-se da "Reunião do Comitê Preparatório da Rio+20". Entre os dias 16 e 19, o governo brasileiro organiza mesas de debate sobre temas ligados à sustentabilidade com especialistas na área, nos “Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável”. A fase final, chamada de “Segmento de Alto Nível”, com presidentes e líderes de governos, vai de 20 a 22 de junho.
Um dos dos co-presidentes das negociações, o embaixador da Coreia do Sul, Kim Sook, afirmou que o mundo “está com os olhos voltados para o Rio” e explicou como funcionarão os grupos de discussão, além de distribuir os trabalhos.
Segundo ele, ainda há áreas sem acordo e “temos apenas três dias para finalizar esse documento [a reunião informal em torno do documento segue até o dia 15]”. “Devemos dar um documento limpo aos chefes de Estado, pois devemos isso à nossa geração e ao nosso planeta. O mundo todo está com os olhos voltados para nós e nós somos capazes”, disse Sook.
Mais cedo, em entrevista ao Bom Dia Brasil, o embaixador Luiz Alberto Figueiredo, negociador-chefe do Brasil, afirmou que a Rio+20 "vai definir metas para o mundo inteiro".
"Um dos principais resultados que nós já podemos prever será a adoção pela Rio+20, pelos chefes de Estado, de objetivos de desenvolvimento sustentável", disse. "Haverá uma coisa concreta, que será refinada por um processo de negociação imediatamente depois da Rio+20. Nós temos que definir metas para o mundo inteiro, não só para os países pobres, mas para os países ricos também, para que todos caminhemos no sentido da sustentabilidade."
O embaixador minimizou as ausências de Barack Obama (EUA), David Cameron (Grã-Bretanha) e Angela Merkel (Alemanha). "É impressionante o número de chefes de Estado que já confirmaram a sua vinda. Nós vamos ter mais chefes de Estado e de governo que tivemos na Rio 92. É natural que alguns chefes de Estado não possam vir por razões diferentes, mas seus países terão sempre uma voz muito ativa, porque eles serão representados também em bastante alto nível."
Posição da delegação brasileira na plenária da Rio+20